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Monday, November 05, 2007

Trechos escolhidos da entrevista de Contardo Calligari a Reinaldo Azevedo

Assim, eu tenho uma antipatia muito grande por qualquer expressão nacionalista. Em geral, tenho uma certa repulsa por qualquer expressão de fidelidade ao grupo.

Você endossaria a frase do Samuel Johnson de que o patriotismo é o último refúgio do canalha?
Sem nenhuma dúvida. Qualquer tipo de fidelidade que passa na frente do foro íntimo é, para mim, a definição do mal.

É a destruição do indivíduo.
Exatamente. Porque,
quando isso acontece, aí tudo é permitido. No fundo, a única coisa que coloca limites ao horror, para mim, é o foro íntimo. Eu digo que é o mal porque é a definição do mal do século 20, que deu no fascismo, no nazismo, no stalinismo, em Pol Pot.

Há uma demonização do indivíduo hoje em dia.
Ah,
completamente! E por conta de um equívoco. Para mim, individualismo é uma palavra nobre. ....
O individualismo não tem nada a ver com o egoísmo, mas com uma sociedade em que o indivíduo é um valor superior à comunidade. ...
O conceito da vontade geral é verdadeiramente uma das raízes ideológicas do que aconteceu de pior no século 20.

Minha tese de doutorado, ... Chama-se A Paixão da Instrumentalidade. Está dividida em duas partes. A primeira é uma leitura sobre o funcionamento dos Einsatzgruppen, que eram grupos de extermínio nazistas formados por pessoas quaisquer.
Não eram os SS. Era uma espécie de polícia civil que funcionava como grupo de extermínio, especialmente na Polônia. ... Mas o fundo da tese é o seguinte: é relativamente fácil se deixar levar, abdicar do exercício da subjetividade, que é um exercício eminentemente cansativo. Ser um indivíduo é um negócio complicado, pesado. E há uma tendência perigosa de se renunciar à individualidade e de se tornar um instrumento de um funcionamento coletivo.

... eu disse que não tenho nenhuma simpatia pelo conceito de nação em geral, pelo nacionalismo, porque me parece o contrário do discurso moderno. Aliás, o individualismo moderno tem origem no cristianismo.

Porque você faz a escolha, não é escolhido.
Claro, é uma relação de Deus com cada um individualmente, independentemente do grupo ao qual o sujeito pertença, inclusive o grupo familiar. É uma relação de foro íntimo. E porque é uma relação na qual o fato de pertencer a uma raça, nação ou o que seja é indiferente.

... o Brasil é para amadores e principiantes. Porque pagar e corromper é muito fácil. O difícil é construir uma coletividade em que haja leis, institucionalidade. O difícil é ser moral. Ser imoral é que é para principiantes. A malandragem é uma conduta moral de uma criança de 9 anos. O difícil é crescer. Governar pagando o cara para votar comigo é que é amador. O profissional é construir um discurso que convença, é falar com o outro. É claro que o brasileiro não é só isso. A
contraparte do jeitinho é o recurso ao foro íntimo acima da convenção, o que é altamente moral.

... houve momentos em que a noção de interesse público era clara. O Brasil teve pouquíssimos exemplos, desde essa época, de um governo pelo bem republicano. A idéia de uma coisa pública é, de fato, bastante ausente na vida cotidiana da gente aqui. Veja uma coisa espantosa. O cara é
dono de um café, um bar, que tem determinadas cores. Então ele se dá o direito de pintar um pedaço da calçada com as cores do seu empreendimento. As ruas viram uma porcaria.




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